Rafael Almeida (com gesso) é um dos corintianos presos em Oruro
O sofrimento dos pais dos doze corintianos presos em Oruro, na Bolívia,
por conta do sinalizador que atingiu e matou o adolescente Kevin
Espada, de 14 anos, na partida entre Corinthians e San José-BOL, válida
pela Taça Libertadores, não se limita a distância e ou a incerteza sobre
o futuro dos filhos. Passa, em especial, pela reação de torcedores de
outros clubes, que por conta da rivalidade, utilizam o episódio para
provocações em redes sociais.
Em Praia Grande, Walcineia Almeida, mãe do torcedor Rafael Almeida, um
dos corintianos retidos em Oruro, é uma das que lamentam o comportamento
de torcedores rivais pela internet. Para a comerciante, o episódio não
deveria ser encarado como uma "brincadeira" pelos rivais, já que as
palavras que têm sido usadas em referência aos presos na Bolívia, como
"bandidos" ou "assassinos", são uma falta de respeito.
- Como mãe, fico muito chateada. Leio muita coisa na internet, algumas
ofensas, e acho isso muito triste. Não é uma brincadeira, é um
sentimento. O pessoal parece que não tem mais amor no coração. Ficam
malhando, falando coisas... Torcer, provocar, brincar com futebol, é uma
coisa. Mas estamos falando de vidas, do sentimento de outras pessoas -
comenta.
Corintiana fanática como o filho, Walcineia também sofreu durante o
jogo da última quarta-feira, entre Timão e Millionários-COL, no
Pacaembu. Sofrimento, porém, nem tanto com o que aconteceu no gramado (o Corinthians venceu por 2 a 0, com estádio vazio), mas pela ausência de Rafael, com quem costumava assistir às partidas do Alvinegro do Parque São Jorge no quintal de casa.
- Em casa, todos somos corintianos. Quando tem jogo, colocamos a TV lá
fora, aproveitando que o quintal é grande. E todo mundo assiste o jogo
junto. Ontem (quarta), porém, eu já não pude fazer isso, já que meu
filho não estava comigo. Foi uma situação triste - lamenta.
Certa da inocência de Rafael, Walcineia aguarda a próxima
segunda-feira, quando há a expectativa de que ocorra a audiência que
pode culminar na liberação dos corintianos. Se nada for resolvido, a
comerciante - que não tem notícias do filho desde o começo da semana -
ela pretende ir a Bolívia, até acompanhada de familiares dos outros
torcedores presos.
- A informação que o advogado (dos brasileiros) é que as coisas estão paradas por lá (por conta de uma greve geral em Oruro).
Vou esperar até segunda. Caso não ocorra nada, com certeza (pretende ir
a Bolívia). Preciso de um retorno, até para reunir as famílias,
ganharmos força. Ele (Rafael) está pagando por algo que não fez, isso é
triste demais - conclui.
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