De rosto coberto pelo boné e pelas próprias mãos, o jovem H. A. M., de
17 anos, se apresentou na tarde desta segunda-feira na Vara da Infância e
da Juventude, no centro da cidade de Guarulhos, para assumir a autoria
do disparo do sinalizador que atingiu e matou o adolescente boliviano
Kevin Beltrán Espada na noite da última quarta-feira, durante a partida
entre Corinthians e San José, em Oruro.
O adolescente apareceu na Vara da Infância no carro do advogado da
Gaviões da Fiel, Ricardo Cabral, sentado no banco da frente. Acompanhado
pela mãe, ele começou a dar seu depoimento por volta das 15h30 na sala
da promotoria localizada no terceiro andar. Ele deve ser liberado ainda
nesta segunda-feira (até as 19h). Depois de ouvir o menor, o promotor
Gabriel Rodrigues Alves irá confrontar as informações para decidir qual
encaminhamento dará ao caso.
Repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e curiosos se acumularam no local
para esperar a chegada do jovem, que voltou ao Brasil de ônibus no
último sábado. Em entrevista ao "Fantástico", no domingo, ele afirmou ser o responsável pela morte de Kevin.
Menor chega com as mãos cobrindo o rosto
O jovem é associado da torcida organizada há dois anos e estava na
arquibancada destinada aos visitantes no estádio Jesús Bermúdez. Segundo
Cabral, ele gostaria de ter se entregado na Bolívia depois que 12
corintianos foram presos, mas por estar sob responsabilidade da torcida,
foi decidido que ele seria entregue à sua mãe. Havia temor por sua
integridade física em caso de confissão na Bolívia.
A versão do advogado é que o garoto ficou em choque e muito preocupado
após o disparo acidental do sinalizador naval. Cabral diz que o artefato
foi comprado num camelô, no centro da cidade de São Paulo, e levado
para a Bolívia. Ainda de acordo com o advogado, todos os objetos apreendidos eram de H. A. M..
- Aqueles sinalizadores apreendidos pertenciam ao menor brasileiro. Ele
abandonou a mochila porque estava sendo hostilizado por membros da
Gaviões, se afastou e depois retornou em outro lugar na arquibancada.
Foi quando os policiais vieram e apreenderam mochilas, bandeiras - disse
o advogado.
Em Oruro, dois torcedores foram indiciados como autores do crime por
portarem sinalizadores: Cleuter Barreto Barros e Leandro Silva de
Oliveira. Os outros dez estão acusados como cúmplices. A expectativa da
Gaviões é que a confissão amenize a situação dos brasileiros detidos -
um deles, Tadeu Macedo Andrade, é diretor da torcida -, mas o embaixador
do Brasil na Bolívia afirmou que o cenário, ao menos inicialmente, não
deve ser alterado.
H. A. M. não pode ser extraditado, mas é provável que as autoridades
bolivianas queiram participar da investigação, que será feita no Brasil.
Ricardo Cabral afirma ter como provar que o menor foi mesmo o autor do
disparo e que a confissão não se trata de uma estratégia para tentar que
os torcedores sejam soltos em Oruro.
O advogado garante que ao comparar a identidade e a foto do jovem em
sua ficha cadastral com a imagem ampliada do vídeo feito por uma
emissora de televisão boliviana, que mostra de onde teria saído o
sinalizador, não restará dúvidas que se trata de seu cliente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário