Estádio Jesús Bermudez, palco da tragédia que matou Kevin Espada
O Corinthians recebeu nesta semana uma boa notícia em relação ao caso
envolvendo a morte do torcedor boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada,
de 14 anos. A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) enviou ao
clube a justificativa jurídica sobre a punição aplicada ao clube, que
recebeu multa de US$ 200 mil e ainda teve a presença de seus torcedores
como visitantes proibida por 18 meses. No documento, segundo Luiz Felipe
Santoro, advogado do clube, a entidade diz que o Corinthians não é
culpado pela morte do garoto.
Satisfeita com a postura adotada pela Conmebol, o Timão já enviou um
recurso, pedindo a anulação ou, na pior das hipóteses, a redução da pena
para ter sua torcida fora de casa. A ideia é permitir que a Fiel
assista aos jogos como visitante, principalmente caso o adversário nas
próximas fases de mata-mata da Libertadores seja brasileiro. Há a
possibilidade de o Corinthians encarar o arquirrival Palmeiras nas
oitavas de final, por exemplo.
– Recebemos a justificativa e já entramos com o recurso nesta semana. O
documento enviado pela Conmebol dizia claramente que o Corinthians não
está sofrendo a punição pelo falecimento do menino, mas sim porque o
torcedor acendeu um sinalizador no estádio. Deixaram isso bem claro. É
evidente que o clube não tem culpa nenhuma. O que se discute é a
responsabilidade sem culpa – explicou Santoro.
A primeira punição da Confederação Sul-Americana de Futebol abrangia
todos os jogos do Timão em competições organizadas pela entidade, dentro
ou fora de casa. A vitória por 2 a 0 sobre o Millonarios, da Colômbia,
pela segunda rodada da primeira fase, por exemplo, foi realizada de
portões fechados e assistida por apenas quatro torcedores, que
conseguiram uma liminar na justiça e compareceram ao estádio do
Pacaembu.
Na vitória por 3 a 0 sobre o Tijuana, primeiro jogo que a Fiel pode
assistir no estádio do Pacaembu na Libertadores deste ano, o Corinthians
teve como renda bruta R$ 2.049.017,50, com um público de 31.671
pagantes. De acordo com o balanço financeiro divulgado pelo clube no
início de 2013, na última temporada os ingressos foram responsáveis por
10% da receita total do Timão – quarta maior parcela, atrás de TV (43%),
patrocínio e publicidade (18%) e social e amador (13%).
Doze corintianos ainda estão presos na penitenciária San Pedro, em Oruro
Para elucidar a postura da Conmebol em relação ao Corinthians no caso
Kevin, Luiz Felipe Santoro usou um exemplo cotidiano, mas que deixa
claro a ausência de culpa do clube na morte do torcedor boliviano
especificamente.
– Se eu pego um carro que não me pertence e bato em outro carro, o
responsável pelo fato é o dono do veículo, mas o culpado sou eu. O
torcedor que atirou o sinalizador é quem responde pela morte do Kevin. O
Corinthians responde pelo fato de ele portar o artefato no estádio –
completou o advogado.
– A nossa tese de defesa é justamente essa. Aceitamos a
responsabilidade sem culpa pelo fato de o torcedor ter lançado um
sinalizador, mas não pela morte do garoto. Não há responsabilidade
criminal no caso. Assim, o Corinthians entendia que estava sendo
sancionada uma pena muito grande por isso.
Integrantes da Gaviões da Fiel estão presos em Oruro, na Bolívia
O menor de idade H.A.M., que assumiu o disparo do sinalizador marítimo
que matou Kevin Espada, será processado no Brasil. Ainda não se sabe se
ele será acusado de homicídio culposo ou doloso, mas deverá ser
indiciado pelo Ministério Público em breve. No dia 25 de fevereiro,
cinco dias após o fato, o garoto deu um depoimento na Vara da Infância e
Juventude de Guarulhos e foi liberado em seguida. Ele é membro da
torcida Gaviões da Fiel há cerca de dois anos.
Se condenado no Brasil, o menor poderá ser internado na Fundação Casa
por até três anos (em caso de homicídio doloso) ou receber uma medida de
liberdade assistida (homicídio culposo). Na Bolívia, os 12 torcedores
presos no dia da morte de Kevin continuam na Penitenciária San Pedro, em
Oruro, acusados de homicídio (dois como autores e os demais como
cúmplices). Detidos preventivamente, eles receberam na semana passada a
visita de uma comitiva de parlamentares brasileiros que tentam melhorar a
situação no país vizinho.
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