As cruzes que se multiplicam ao longo de quilômetros e mais quilômetros
de uma barreira interminável denunciam a violência que um dia tomou
conta de fronteira entre México e Estados Unidos – principalmente na
região de Tijuana, onde o Corinthians enfrenta o time local nesta quarta-feira,
às 22h (horário de Brasília), pela Taça Libertadores. Hoje, porém, a
equipe dos Xolos é uma das responsáveis por diminuir a tensão na região,
normalmente agitada por causa de imigrantes ilegais que tentam cruzar
para o lado americano e a forte presença do narcotráfico - inclusive a
suspeita de ligação com o presidente de honra do clube.
Tijuana fica localizada a 2.300 quilômetros da Cidade do México, ao
norte, no estado da Baja California. Está colada na divisa com o estado
americano quase homônimo, a California. Por isso, desperta o interesse
de muitos estrangeiros sem visto dos Estados Unidos, que querem
ingressar no país de forma ilegal. Nem todos conseguem, as cruzes provam
isso. As mortes são por queimaduras da cerca eletrificada do lado
americano, ou até mesmo pelo calor, que desidrata e castiga a região de
deserto que divide os dois países.
Cruzes se multiplicam e homenageiam os mortos na divisa com os EUA
Só na parte de Tijuana, a cerca tem pelo menos 200 quilômetros de
extensão, com duas camadas - a mexicana, mais antiga e com homenagens
aos mortos, e a americana, mais alta, eletrificada, e monitorada por
câmeras. Para atravessar por vias legais, pode-se esperar até duas ou
três horas em uma rodovia que liga México e Estados Unidos. O temor do
narcotráfico faz os americanos endurecerem a fiscalização nessa região
fronteiriça.
Em Tijuana, até o presidente de honra dos Xolos é acusado de
envolvimento com cartel local. Jorge Hank já foi prefeito da cidade e
está envolvido em uma série de polêmicas. É dono de um casino, de uma
casa de apostas e do clube - tudo “amarrado” pela marca Caliente. Hank
foi preso em 2011 por porte ilegal de armas e munições. Pior: boa parte
dessas armas teve ligação com assassinatos ocorridos no estado da Baja
California. O presidente de fato dos Xolos é seu filho, Jorge Hank
Inzunza.
- Eles não falam com a imprensa, é muito difícil localizá-los. Jorge
Hank é um homem muito poderoso, mas de grande controvérsia. Ele não é um
tipo dos mais amigáveis - disse um jornalista local, que preferiu não
se identificar.
Cerca da fronteira entre o México e os Estados Unidos: tensão pura
Pela primeira vez, a cidade vai receber uma equipe brasileira na Taça
Libertadores. É tudo inédito para um local que não estava acostumado a
ver futebol em alto nível. O jogo contra o Corinthians é considerado
pela diretoria o mais importante da história dos Xolos. Não só pela
parte futebolística, mas pelo que representa na relação com San Diego.
Hoje, com a baixa da economia americana, muitos mexicanos tiveram
entrada permitida no país e vivem na região de San Diego – também
possuem dupla nacionalidade. Quando há um jogo do Tijuana, a migração
para o México é grande. A distância de cerca de 40 quilômetros entre as
duas cidades já foi bem maior, pelo menos no aspecto social. Muitos
nativos dos Estados Unidos adotaram o México como segunda casa e
atravessam a fronteira para fazer compras, jantar em bons restaurantes
e... ver um jogo dos Xolos.
Dos mais de 20 mil sócios que adquiriram carnês para as partidas do
Campeonato Mexicano, a diretoria calcula que pelo menos 500 sejam
americanos.
- Isso ajudou muito a diminuir os problemas da região. Muitas famílias
assistem aos nossos jogos, inclusive americanas, e o clima é de pura
confraternização. Você vai ver nossos torcedores pressionando o
adversário, claro, mas jamais com violência - afirmou um funcionário da
comunicação do clube.
Até perder de vista: cerca tem pelo menos 200 quilômetros do lado de Tijuana
Nada disso, porém, apaga aquilo que as cruzes eternizaram na fronteira.
E mesmo com a considerável diminuição das tentativas de imigração
ilegal aos Estados Unidos, ainda há muitos problemas do tipo na região.
– Há quem tente, sim. Muita gente ainda tenta atravessar, mas aos
poucos o povo mexicano está se conscientizando de que isto não é
necessário. Os Estados Unidos precisam mais de nós do que nós deles.
Então, a tendência é que um dia essa barreira seja mera formalidade –
disse o funcionário do Tijuana.
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