Em um campeonato marcado pelo equilíbrio técnico, venceu quem foi mais regular. Líder em 27 das 38 rodadas, o Corinthians teve de esperar até o último jogo para celebrar seu quinto título brasileiro. A festa em um Pacaembu lotado só veio depois do sofrimento que a Fiel tanto aprendeu a saborear ao longo de 101 anos de história. Com o arquirrival Palmeiras disposto a estragar qualquer comemoração, o Timão lutou para superar o nervosismo, empatar por 0 a 0 e voltar a ser campeão nacional depois de seis anos. No fim do clássico, uma briga generalizada entre os jogadores manchou a rodada decisiva.
A difícil igualdade no clássico, que teve Valdivia, Wallace, João Vitor e Leandro Castán expulsos no segundo tempo, foi mais do que suficiente para a taça voltar ao Parque São Jorge. No Rio, o Vasco não passou de um empate por 1 a 1 contra o Flamengo, no Engenhão, e ficou com o vice-campeonato. O Timão encerra o Brasileirão com 71 pontos contra 69 dos cariocas. Já o Palmeiras fica com 50, em 11º, classificado para a Copa Sul-Americana.
Willian, do Corinthians, disputa com Gerley, do Palmeiras
Com a conquista, o Corinthians iguala-se ao Flamengo em número de títulos brasileiros, todos na “era moderna” da competição. Os clubes com as maiores torcidas do país estão abaixo apenas de São Paulo, com seis, e de Palmeiras e Santos, com oito, ambos beneficiados com a unificação dos extintos Torneio Roberto Gomes Pedrosa e Taça Brasil.
Vencer o principal torneio do país tem um sabor especial para Tite. Depois de balançar no cargo em alguns momentos da temporada, o maior título da carreira faz o treinador afastar a desconfiança de uma ala da torcida e assegura a permanência dele em 2012. A missão agora volta a ser acabar com o eterno desejo alvinegro de conquistar a Taça Libertadores.
Quem também se fortalece é o presidente Andrés Sanches, novo chefe de Seleções da CBF. Em um mandato caracterizado pelo aumento de receitas e por contratações badaladas, como Ronaldo, Roberto Carlos e Adriano, o dirigente obtém seu maior triunfo no campo, fechando um clico considerado de "redenção" pelos dirigentes – sob a gestão dele, o clube venceu também a Copa do Brasil e o Paulistão de 2009. Ele se afasta do cargo no dia 15 de dezembro, mas deixa seu grupo ainda mais fortalecido para vencer as eleições de fevereiro. Mário Gobbi Filho é o candidato da situação.
A empolgação dos mais de 34 mil corintianos que lotaram o Pacaembu se transformou em nervosismo para o Timão. A pressão que a equipe tentou impor nos primeiros minutos não surtiu efeito diante de um Palmeiras bem posicionado e paciente. A velocidade aplicada pelos alvinegros foi controlada com faltas simples que impediram qualquer aproximação perigosa. Em cinco minutos, foram cinco infrações e nenhum trabalho para Deola.
A dificuldade em se aproximar da área, gradativamente, enervou o Corinthians. O excesso de passes errados no setor ofensivo deu ao Palmeiras a chance de controlar o jogo. Sem pressa, o time dirigido por Luiz Felipe Scolari apostou em lançamentos pelo alto para tentar surpreender os zagueiros Paulo André e Leandro Castán. Valdivia levou a melhor em boa parte dos lances contra o improvisado volante Wallace, mas ficou aquém do esperado na criação para Luan e Ricardo Bueno. Apenas Marcos Assunção assustou em cobranças de faltas.
Enquanto o Corinthians sofria para se acertar, o Vasco ficou em vantagem contra o Flamengo, no Engenhão, e manteve o sonho de levar a taça a São Januário. O sistema de som do Pacaembu, que vinha anunciando todos os outros resultados da última rodada, ignorou o gol de Diego Souza a pedido da direção corintiana. Os jogadores do Timão desceram aos vestiários sem saber a vantagem do rival na briga pelo título.
Antes de o primeiro tempo acabar, o Corinthians reclamou de um pênalti em lance duvidoso. Willian recebeu passe de Alessandro na área, recebeu um toque do joelho de Henrique e caiu ao trombar com Leandro Amaro. A bola sobrou para Liedson, que finalizou contra um marcador e perdeu boa chance. Os atletas ainda pressionaram o árbitro Wilson Luiz Seneme, que nada marcou.
Valdivia e Wallace expulsos
O Corinthians voltou para o segundo tempo outra vez tentando pressionar. Agora, contudo, teve a ajuda de alguém que poderia desequilibrar do outro lado. Logo aos três minutos, Valdivia cometeu falta violenta sobre Jorge Henrique e foi expulso. Sem o Mago, o Verdão teve problemas para deixar a defesa e acabou permitindo que o Timão segurasse a bola no campo de ataque. Para ajudar, Renato Abreu empatou para o Flamengo. Desta vez, o sistema de som do Pacaembu informou o resultado e colocou fogo na Fiel.
Apesar de melhorar seu desempenho e do incentivo das arquibancadas cada vez maior, o Timão seguiu com problemas para passar pela defesa adversária. Alex foi bem marcado por Márcio Araújo e não conseguiu acionar Liedson. O Palmeiras só respondia nas faltas com Marcos Assunção. Em uma delas, quase voltou a dar esperança ao Vasco. Fernandão desviou de cabeça e carimbou a trave.
O drama corintiano reapareceu dois minutos mais tarde, quando Wallace cometeu falta violenta em Maikon Leite e também foi expulso. O Verdão chegou a marcar, com Henrique, mas a arbitragem marcava impedimento de Fernandão no início da jogada. Por um instante, o silêncio tomou conta da parte alvinegra do Pacaembu.
A partir dos 40 minutos, perder o título parecia impossível. A festa começou aos poucos nas arquibancadas. Em campo, muita confusão. Jorge Henrique deu o famoso "chute no vácuo", criado por Valdivia, e deu início a um tumulto com João Vitor, que acabou expulso. Outros jogadores foram até a linha de fundo e a briga se generalizou. Tite e o trio de arbitragem tentaram apartar. Com o problema resolvido e o fim do jogo entre Vasco e Flamengo, o Pacaembu explodiu no coro de campeão.
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