Alexandre Pato vale R$ 40 milhões. Graças ao seu talento, seu faro de
gols, ao nome que construiu desde as categorias de base no
Internacional, e depois no Milan, e também ao doutor Paulo Roberto
Mussi. Em 2000, o garoto caiu do sofá e fraturou o braço esquerdo. Os
pais já haviam perdido a conta de quantas vezes ele havia quebrado o
local. Fruto não só das molecagens, mas também de um tumor que deixava
seu osso frágil como casca de ovo, e foi descoberto numa consulta com o
médico em Pato Branco, cidade no interior do Paraná onde o artilheiro
nasceu.
Alexandre Pato teve um tumor retirado do braço esquerdo 13 anos atrás
O tratamento durou quase um ano. O tumor foi extraído, e o garoto nunca
mais sofreu qualquer fratura no braço. Mas, desde que se transferiu
para o futebol italiano, em 2007, cada vez mais é vítima de lesões
musculares. Sem contato com o paciente mais ilustre desde sua mudança
para o exterior, o médico especialista em ortopedia fala frequentemente
com os pais de Pato e diz não entender o porquê de tantas contusões em
sequência. Mussi acredita que não passe de uma casualidade.
- Não há ligação entre os problemas, não detectei nada na época, a
estrutura óssea é que tinha esse problema. Acho que é uma coincidência
muito grande, talvez o futebol europeu seja mais pesado, mais agressivo,
a parte de treinamentos é diferente. Embora, aqui, tenhamos um
calendário muito apertado. Não consigo entender porque tantas lesões,
não me passa pela cabeça se é mau condicionamento, mas acredito que isso
possa ser resolvido com os profissionais gabaritados do Brasil -
afirmou.
Estudos dizem que 5% das lesões daquele tipo se tornam malignas, mas o
problema é que seria impossível ele ser jogador de futebol com aquele tumor. Ele quebraria o braço em todas as quedas"
Paulo R. Mussi, ortopedista
O reforço do Corinthians vai receber atenção especial do departamento
médico para diminuir o assustador número de 16 lesões durante a passagem
de cinco anos e meio pelo Milan. Não será novidade para o mais novo
louco do bando receber tratamento diferenciado. Na época em que o tumor
no braço esquerdo foi detectado, sua família não tinha dinheiro para
fazer a cirurgia. Paulo Roberto Mussi tratou do problema sem cobrar
nada.
Primeiro, foram aplicadas injeções com remédio no local, para
"preencher" o espaço no úmero, onde o tumor estava localizado. Como não
ocorreu o resultado esperado, foi preciso fazer uma operação com enxerto
ósseo para fechar a cavidade. O procedimento foi muito importante por
dois motivos: embora fosse mínimo, havia o risco de o tumor se tornar
maligno. Mas, mesmo que não fosse o caso, seria impossível para
Alexandre Pato virar jogador de futebol.
- Há estudos que dizem que 5% das lesões daquele tipo se tornam
malignas ao longo da vida. Mas o problema maior era a frequência de
fraturas. O menino jogava bem, queria seguir carreira, mas seria
impossível conciliar aquele problema com uma carreira de jogador de
futebol. Ele quebraria o braço em todas as quedas e até mesmo em alguns
choques.
Pato visitou o consultório do doutor Mussi por um bom tempo para
acompanhar a evolução do problema. Tiraram fotos, mas todas ficaram com a
mãe do jogador. Uma das frustrações do ortopedista é justamente não ter
nenhum registro com o paciente ilustre. Ele até chegou a assistir a um
clássico do Milan contra o Internazionale no estádio, mas preferiu não
ir até o vestiário. Além de ter compromissos, ficou com receio de
atrapalhar.
Em 2007, quando estava no Sul-Americano Sub-20, Pato mandou uma camisa
da seleção brasileira com dedicatória ao médico, que a guarda até hoje. O
carinho por Pato só não será maior daqui para frente porque o atacante
ousou acertar com o Timão, seu arquirrival. Mussi é são-paulino
fanático, costuma visitar a capital paulista para ver a filha e o time
do coração. Quando o paciente surgiu no Internacional, ele até
simpatizou com o Colorado. Depois, o Milan passou a ser uma espécie de
"segundo time". Agora, o lema será: amigos, amigos, futebol à parte.
- Guardo a camisa da Seleção como uma bela lembrança, mas do
Corinthians não quero, não (risos). Meu sonho era ver o Pato no Morumbi,
e agora ele vai para o Corinthians. Mas sou são-paulino em primeiro
lugar. Quando se enfrentarem, vou torcer para que ele não se machuque,
faça uma bela partida, mas nenhum gol.
Alexandre não foi o único menino atendido de graça pelo ortopedista.
Ele afirma que até hoje dá consultas e faz cirurgias gratuitamente em
crianças que não podem pagar. Casos, por exemplo, de meninos e meninas
excepcionais, ou de escolinhas de futebol de Pato Branco. Em meio a
tanto trabalho, espera conseguir fazer uma visita e, finalmente, se
reencontrar com Pato em São Paulo. E tirar a tão sonhada foto com o
paciente-ídolo.
- Acho que ele vai dar muitas alegrias ao Corinthians e ao futebol
brasileiro. Ele é uma pessoa espetacular, é educadíssimo, bondoso,
humilde. Lembro dele pequenininho no consultório, nunca foi prepotente.
Além de ter se transformado num grande atleta, não é esnobe. É uma coisa
muito carinhosa. É um sentimento que tenho não ter nenuma foto com ele,
mas quem sabe agora conseguimos tirar.
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